A aula 3 da disciplina Leitura e Escrita - Visão Sociológica e Antropológica da pós-graduação em alfabetização e letramentos terá como base o texto abaixo, disponibilizado por e-mail pela professora Aurea. Uma oportunidade de ter contato com diversas opiniões a respeito da leitura e da formação de leitores dentro e fora das escolas, como processo político, cultural, cidadão, etc. São 19 boas citações que recomendo a qualquer professor(a) a leitura.
Segue o texto original:
Segue o texto original:
FACULDADE DE EDUCAÇÃO – UEMG
PÓS-GRADUAÇÃO lato-sensu Alfabetização e letramentos.
Disciplina: Leitura e
Escrita: Visão Sociológica e Antropológica
PROFª. Áurea
Regina Guimarães Thomazi
Aula 3: 30
de outubro de 2015
SOBRE O ATO DE LER E A FORMAÇÃO DO LEITOR
1. “Ah como é importante
para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias...Escutá-las é o
inicio da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho
absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.” (ABRAMOVICH, 1991, p.16.)
2. “A literatura
constitui modalidade privilegiada de leitura, em que a liberdade e o prazer são
virtualmente ilimitados. Mas, se a leitura literária é uma modalidade de
leitura, cumpre não esquecer que há outras, e que essas outras desfrutam
inclusive de maior trânsito social. Cumpre lembrar também que a competência
nessas outras modalidades de leitura é anterior e condicionante da participação
no que se poderia chamar de capital cultural de uma sociedade e,
consequentemente, responsável pelo grau de cidadania de que desfruta o
cidadão.” (LAJOLO, 1993, p.105)
3. “Ora, discute-se tanto
a cidadania, mas como o professor pode tornar seus alunos cidadãos se ele mesmo não tem tidos
respeitados seus direitos de cidadania? Da mesma maneira, indagamos na
pesquisa: como pode um professor que não gosta de ler ou escrever tornar seus
alunos leitores e escritores? Porque, vejam: a leitura é um prazer e não se
pode obrigar ao prazer [...]. Mais do que formar o hábito de ler, trata-se
então, de criar o gosto de ler. Ou seja, políticas de formação de professores
precisam ser delineadas no interior de uma política cultural.” ( KRAMER &
SOUZA 1996, p.157)
4. “E preciso que a
criança goste de ler e vá espontaneamente ao livro. O que é ler? [...] compreender,
julgar, reter [...] Mas a compreensão está profundamente ligada a atitude
afetiva e o julgamento na matéria é nada menos que racional [...] Um livro
deixa traços, impressões, que, por sua vez, servirão de ponto de partida para
novas curiosidades [...] e o livro é estimulante incessante .” (HELD, 1980, p.226)
5. “ A rejeição das
leituras escolares obrigatórias repousa sobre uma constante: a recriminação
contra a maneira como os textos literários são abordados na escola, contra a
análise e a interpretação metódica que lhes são aplicadas e que impedem de
acontecer a identificação.” ( SCHON 1993, p.37)
6. “O simples fato de
colocar uma criança ou um jovem na presença de livros não garante como efeito
um engajamento durável na leitura [...] Se a presença do livro ao lado da
criança não é uma condição suficiente, ela é, entretanto, quase necessária,
tendo em vista que poucos jovens que não tinham livros em seus quartos aos dez
anos, vieram a ser em seguida grandes leitores de livros.” ( SINGLY 1993,
p.167)
7. “É preciso enfatizar,
ainda, que a gestão de uma biblioteca escolar não é uma tarefa das mais fáceis,
pois o livro ‘tornou-se o último veículo da cadeia de transmissão cultural. E o
mais caro, o que toma mais tempo, mais espaço, o que exige mais preparo, mais
solidão, mais silêncio, mais participação, etc.’ Por isso mesmo, a
implementação de um serviço bibliotecário na escola vai exigir ‘suor’ - um suor
que é o resultado de uma opção política e da tentativa de melhorar a qualidade
de ensino e tirar os nossos alunos da situação de ignorância e mediocridade. As
críticas e os lamentos não bastam; é necessário ‘arregaçar as mangas’, delinear
a proposta da biblioteca escolar e concretizá-la.” ( SILVA 1993, p.140)
8. “Os manuais oferecem
uma opção de textos, com a finalidade de serem lidos e explicados em aula,
acompanhados de exercícios tratando da compreensão e da língua. Cada leitura
deve então fornecer uma unidade de sentido completo, auto-suficiente, o que faz
da leitura um exercício particularmente limitado. De manual em manual, o acervo
se renova lentamente, mas como manter o interesse com fragmentos de relatos ou
de descrições tiradas de obras das quais não se conhece nem a intriga nem os
personagens? O texto dado à leitura, logo torna-se um simples pretexto ao
trabalho sobre a língua (vocabulário, ortografia, gramática).” (CHARTIER, 1993,
p. 107)
9. “A leitura deve ser distinguida da
emancipação: elas não se recobrem totalmente. Dito de outra maneira, o acesso à
leitura não é uma condição suficiente. O que importa, é a atitude de pensar de
maneira autônoma [...] Ler é ter acesso à opinião do outro, o que é
possibilitado pela publicidade que é a edição, facilitando o debate público e
permitindo o exercício da faculdade de julgar,
pela confrontação ao pensamento do outro [...] Breve, ler afia assim, o
exercício do julgamento.” (KUPIEC, 1993
p.81,82)
10. “ [...] as
práticas escolares tendem a restringir
fortemente a oferta de leitura e
a formação de leitores. Estes estudos indicam que as professoras – mesmo numa época de diversificação da produção editorial brasileira –
tendem a selecionar textos que
evidenciem uma forte preocupação com a formação
moral e ideológica de seus alunos [...]ainda que os textos
não possuam esse fundo moral e
ideológico, muitas professoras
os lêem
como se assim fossem, buscando
com seus alunos, ao final de sua
leitura, descobrir qual teria sido ‘ a lição da história’, seu principal ensinamento’ ou ‘exemplo’.
(GALVÃO E BATISTA, 1998)
11. “ Ao ler na escola, o
aluno sofre a interferência do professor. Assim, é muito delicado o papel deste
no processo. Companheiro discreto, interlocutor, incentivador, o professor
muitas vezes tem sua orientação requisitada pelo aluno. A leitura crítica
envolve cada indivíduo em suas possibilidades, seu passado e suas condições
atuais. Ninguém pode fazer a leitura do outro para o outro. Fora da escola
ninguém vai determinar a maneira certa de um indivíduo ler: ele é que tem de
ser capaz de pensar, inferir, relacionar, aplicar, extrapolar.” (SEE-MG, 1987)
12. A leitura deve ser feita como “prazer de ler
e não como prazer de saber” e por isso os professores deveriam perguntar aos
seus alunos “o que eles acharam do livro lido, ao invés de perguntarem o que o
autor quis dizer.” (QUEIRÓS, 1998)
13. “Eu penso o seguinte:
muitos alunos gostam de ler, mas outros já são preguiçosos. Em relação à
escola, aluno que não lê é porque ele não quer mesmo, porque nossa escola
favorece bastante. Mas em relação às famílias, eu acho que elas deveriam fazer
mais. Se as famílias também estimulassem seria o pouco que falta.” (Depoimento
Professora 4a série. Ensino Fundamental. Escola Particular, BH In: THOMAZI,
2005, p. 295)
14.
“Eu acho que depende muito também do professor, de oferecer a oportunidade, o
material. É preciso que haja um trabalho do professor porque alguns alunos
colocam o livro na pasta, mas não o lêem. Às vezes, o livro nem é aberto, o
aluno não se interessa. Então, eu acho que o trabalho dentro de sala é muito
importante. O professor deve estimular, fazer a propaganda do livro, fazer um
trabalho diferente,... isso é importante. (...) É preciso que o governo invista
no professor porque um professor bem preparado tem interesse tem equilíbrio...e
seus alunos saem ganhando. Essa dificuldade em leitura tem muito a ver com
isso. Essas crianças que passaram anos na escola, o que é que elas ficaram
fazendo que não aprenderam nada? Elas não têm dificuldades mentais. Acontece
que elas não tiveram o que elas precisavam, um apoio adequado...” (Depoimento
de Professora 3a série. Escola Publica Municipal. BH In:THOMAZI,
2005, p. 302)
15.
“ O número de livros lidos ( durante um tempo
determinado) indicado pela pessoa pesquisada é o índice de
medida da intensidade da leitura. Os
leitores são classificados em
três categorias hierarquizadas:
os leitores fracos (
leitura de 1 a 9
livros por ano), os leitores médios (
10 a 24 livros por ano) e os grandes leitores ( mais de
25 livros por ano), O número de livros
que declararam ter lido é
sobretudo um índice de consumo, e
a classificação em fracos, médios e
grandes dá da leitura uma
imagem redutora e congelada, que
não considera as diferentes
maneiras de ler, de investir
na leitura, do gosto de ler e da
diversidade dos objetos de leitura, uma vez que a prática
da leitura tem formas
múltiplas, uma dinâmica própria,
que depende dos contextos nos quais ela se
inscreve e da maneira como
se integra na biografia dos
leitores.” (HORELLOU-LAFARGE, e SEGRÉ , 2010p. 93)
16.
“Diz -se hoje que os estudantes leem pouco porque há uma crise da leitura,
resultante do fato de que outros interesses substituem o interesse pelos
livros. Pode ser, e não haveria que negar. Entretanto, mesmo assim, quaisquer
que sejam as motivações que o conduzem à leitura, um aspecto a observar seria
que ele lê porque quer encontrar nos livros respostas para questões que não
formula bem ou para desenvolver uma linguagem que lhe permita exprimir pensamentos,
ideias e opiniões convenientes acerca daquilo que lê ou, simplesmente, para
satisfazer a sua consciência de cidadão cultivado, que exige dele que tenha
lido muitos livros.” (SUTTANA, 2011, p.
72)
17.
“Assim, instrumento de reprodução, mas
também espaço de contradição,
a leitura é, fundamentalmente, processo
político. Por isso, aqueles que
formam leitores – alfabetizadores ,
professores, bibliotecários – desempenham um papel político que poderá estar
ou não comprometido com a transformação social, conforme estejam
ou não conscientes da força de
reprodução e, ao mesmo tempo , do
espaço de contradição presentes
nas condições sociais da leitura, e tenham ou não assumido a luta
contra aquela e a ocupação deste
como possibilidade de conscientização
e questionamento da realidade em que o
leitor se insere.” ( SOARES,2004, p. 28)
18. “
O resgaste da cidadania, no caso dos grupos
marginalizados, passa
necessariamente pela
transformação de práticas sociais
tão excludentes com as da escola brasileira, um dos lugares dessa transformação poderia ser a desconstrução da concepção do letramento
dominante.” (KLEIMAN, 2012 p.47)
19.
Assim, pode-se dizer que com a presença do computador e principalmente da internet surgem a cada dia novas oportunidades de leitura, entre as quais há um predomínio
da leitura extensiva: os internautas leem em grande
quantidade e velocidade, embora não de forma aprofundada. Há, no
entanto, também oportunidades de leitura intensiva na Internet em sites
que oportunizam contato com a literatura , artigos científicos e culturais. (FREITAS, 2011, p. 207)
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