quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Aula 3 - Sobre o hábito de ler e a formação do leitor



A aula 3 da disciplina Leitura e Escrita - Visão Sociológica e Antropológica da pós-graduação em alfabetização e letramentos terá como base o texto abaixo, disponibilizado por e-mail pela professora Aurea. Uma oportunidade de ter contato com diversas opiniões a respeito da leitura e da formação de leitores dentro e fora das escolas, como processo político, cultural, cidadão, etc. São 19 boas citações que recomendo a qualquer professor(a) a leitura.

Segue o texto original:

FACULDADE DE  EDUCAÇÃO – UEMG
PÓS-GRADUAÇÃO lato-sensu Alfabetização e letramentos.
Disciplina: Leitura e Escrita: Visão Sociológica e Antropológica
PROFª. Áurea Regina Guimarães Thomazi
Aula 3: 30 de  outubro de 2015


SOBRE O ATO DE LER E A FORMAÇÃO DO LEITOR

1. “Ah como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias...Escutá-las é o inicio da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.”  (ABRAMOVICH, 1991, p.16.)

2. “A literatura constitui modalidade privilegiada de leitura, em que a liberdade e o prazer são virtualmente ilimitados. Mas, se a leitura literária é uma modalidade de leitura, cumpre não esquecer que há outras, e que essas outras desfrutam inclusive de maior trânsito social. Cumpre lembrar também que a competência nessas outras modalidades de leitura é anterior e condicionante da participação no que se poderia chamar de capital cultural de uma sociedade e, consequentemente, responsável pelo grau de cidadania de que desfruta o cidadão.” (LAJOLO, 1993, p.105)

3. “Ora, discute-se tanto a cidadania, mas como o professor pode tornar seus alunos  cidadãos se ele mesmo não tem tidos respeitados seus direitos de cidadania? Da mesma maneira, indagamos na pesquisa: como pode um professor que não gosta de ler ou escrever tornar seus alunos leitores e escritores? Porque, vejam: a leitura é um prazer e não se pode obrigar ao prazer [...]. Mais do que formar o hábito de ler, trata-se então, de criar o gosto de ler. Ou seja, políticas de formação de professores precisam ser delineadas no interior de uma política cultural.” ( KRAMER & SOUZA  1996, p.157)

4. “E preciso que a criança goste de ler e vá espontaneamente ao livro. O que é ler? [...] compreender, julgar, reter [...] Mas a compreensão está profundamente ligada a atitude afetiva e o julgamento na matéria é nada menos que racional [...] Um livro deixa traços, impressões, que, por sua vez, servirão de ponto de partida para novas curiosidades [...] e o livro é estimulante incessante .” (HELD,  1980, p.226)

5. “ A rejeição das leituras escolares obrigatórias repousa sobre uma constante: a recriminação contra a maneira como os textos literários são abordados na escola, contra a análise e a interpretação metódica que lhes são aplicadas e que impedem de acontecer a identificação.” ( SCHON 1993, p.37)

6. “O simples fato de colocar uma criança ou um jovem na presença de livros não garante como efeito um engajamento durável na leitura [...] Se a presença do livro ao lado da criança não é uma condição suficiente, ela é, entretanto, quase necessária, tendo em vista que poucos jovens que não tinham livros em seus quartos aos dez anos, vieram a ser em seguida grandes leitores de livros.” ( SINGLY 1993, p.167)

7. “É preciso enfatizar, ainda, que a gestão de uma biblioteca escolar não é uma tarefa das mais fáceis, pois o livro ‘tornou-se o último veículo da cadeia de transmissão cultural. E o mais caro, o que toma mais tempo, mais espaço, o que exige mais preparo, mais solidão, mais silêncio, mais participação, etc.’ Por isso mesmo, a implementação de um serviço bibliotecário na escola vai exigir ‘suor’ - um suor que é o resultado de uma opção política e da tentativa de melhorar a qualidade de ensino e tirar os nossos alunos da situação de ignorância e mediocridade. As críticas e os lamentos não bastam; é necessário ‘arregaçar as mangas’, delinear a proposta da biblioteca escolar e concretizá-la.” ( SILVA  1993, p.140)

8. “Os manuais oferecem uma opção de textos, com a finalidade de serem lidos e explicados em aula, acompanhados de exercícios tratando da compreensão e da língua. Cada leitura deve então fornecer uma unidade de sentido completo, auto-suficiente, o que faz da leitura um exercício particularmente limitado. De manual em manual, o acervo se renova lentamente, mas como manter o interesse com fragmentos de relatos ou de descrições tiradas de obras das quais não se conhece nem a intriga nem os personagens? O texto dado à leitura, logo torna-se um simples pretexto ao trabalho sobre a língua (vocabulário, ortografia, gramática).” (CHARTIER, 1993, p. 107)

9.  “A leitura deve ser distinguida da emancipação: elas não se recobrem totalmente. Dito de outra maneira, o acesso à leitura não é uma condição suficiente. O que importa, é a atitude de pensar de maneira autônoma [...] Ler é ter acesso à opinião do outro, o que é possibilitado pela publicidade que é a edição, facilitando o debate público e permitindo o exercício da faculdade de julgar,  pela confrontação ao pensamento do outro [...] Breve, ler afia assim, o exercício do julgamento.”  (KUPIEC, 1993 p.81,82)

10. “ [...]  as  práticas  escolares tendem  a restringir  fortemente a  oferta de  leitura e  a  formação de  leitores. Estes  estudos indicam que as  professoras – mesmo numa época de  diversificação da  produção editorial  brasileira –  tendem a  selecionar  textos que  evidenciem  uma forte  preocupação com a  formação  moral  e  ideológica de seus  alunos [...]ainda que  os textos  não possuam esse  fundo  moral e  ideológico, muitas  professoras os  lêem  como se assim  fossem, buscando com seus  alunos, ao final de  sua  leitura, descobrir  qual  teria sido ‘ a lição da  história’, seu  principal ensinamento’ ou  ‘exemplo’.  (GALVÃO E  BATISTA, 1998)

11. “ Ao ler na escola, o aluno sofre a interferência do professor. Assim, é muito delicado o papel deste no processo. Companheiro discreto, interlocutor, incentivador, o professor muitas vezes tem sua orientação requisitada pelo aluno. A leitura crítica envolve cada indivíduo em suas possibilidades, seu passado e suas condições atuais. Ninguém pode fazer a leitura do outro para o outro. Fora da escola ninguém vai determinar a maneira certa de um indivíduo ler: ele é que tem de ser capaz de pensar, inferir, relacionar, aplicar, extrapolar.” (SEE-MG, 1987)

12.  A leitura deve ser feita como “prazer de ler e não como prazer de saber” e por isso os professores deveriam perguntar aos seus alunos “o que eles acharam do livro lido, ao invés de perguntarem o que o autor quis dizer.” (QUEIRÓS, 1998)

13. “Eu penso o seguinte: muitos alunos gostam de ler, mas outros já são preguiçosos. Em relação à escola, aluno que não lê é porque ele não quer mesmo, porque nossa escola favorece bastante. Mas em relação às famílias, eu acho que elas deveriam fazer mais. Se as famílias também estimulassem seria o pouco que falta.” (Depoimento Professora 4a série. Ensino Fundamental. Escola Particular, BH In: THOMAZI, 2005, p. 295)

            14. “Eu acho que depende muito também do professor, de oferecer a oportunidade, o material. É preciso que haja um trabalho do professor porque alguns alunos colocam o livro na pasta, mas não o lêem. Às vezes, o livro nem é aberto, o aluno não se interessa. Então, eu acho que o trabalho dentro de sala é muito importante. O professor deve estimular, fazer a propaganda do livro, fazer um trabalho diferente,... isso é importante. (...) É preciso que o governo invista no professor porque um professor bem preparado tem interesse tem equilíbrio...e seus alunos saem ganhando. Essa dificuldade em leitura tem muito a ver com isso. Essas crianças que passaram anos na escola, o que é que elas ficaram fazendo que não aprenderam nada? Elas não têm dificuldades mentais. Acontece que elas não tiveram o que elas precisavam, um apoio adequado...” (Depoimento de Professora 3a série. Escola Publica Municipal. BH In:THOMAZI, 2005, p. 302)

            15. “ O número de  livros  lidos ( durante  um tempo  determinado) indicado  pela  pessoa pesquisada é  o índice de  medida da  intensidade da  leitura. Os  leitores são classificados em  três categorias hierarquizadas:  os  leitores  fracos (  leitura de  1 a  9  livros por ano), os  leitores  médios (  10 a 24  livros por ano) e  os grandes leitores (  mais de  25  livros  por ano), O número de  livros  que declararam ter lido é  sobretudo um índice de  consumo, e a classificação em fracos, médios e  grandes  dá da  leitura uma  imagem redutora e congelada, que  não considera as  diferentes maneiras de  ler, de  investir  na  leitura, do gosto de  ler e da  diversidade dos  objetos de  leitura, uma vez que a  prática  da  leitura tem  formas  múltiplas, uma dinâmica  própria, que depende dos  contextos nos quais  ela se  inscreve e da  maneira como se  integra na  biografia dos  leitores.” (HORELLOU-LAFARGE, e SEGRÉ , 2010p. 93)

16. “Diz -se hoje que os estudantes leem pouco porque há uma crise da leitura, resultante do fato de que outros interesses substituem o interesse pelos livros. Pode ser, e não haveria que negar. Entretanto, mesmo assim, quaisquer que sejam as motivações que o conduzem à leitura, um aspecto a observar seria que ele lê porque quer encontrar nos livros respostas para questões que não formula bem ou para desenvolver uma linguagem que lhe permita exprimir pensamentos, ideias e opiniões convenientes acerca daquilo que lê ou, simplesmente, para satisfazer a sua consciência de cidadão cultivado, que exige dele que tenha lido muitos livros.”  (SUTTANA, 2011, p. 72)

17. “Assim, instrumento de reprodução, mas  também espaço de  contradição, a  leitura é, fundamentalmente, processo político. Por  isso, aqueles que formam  leitores – alfabetizadores , professores, bibliotecários – desempenham um papel político que  poderá estar  ou  não comprometido com a  transformação social, conforme estejam ou  não conscientes da  força de  reprodução e, ao  mesmo  tempo , do  espaço de  contradição presentes nas  condições sociais da  leitura, e tenham ou  não assumido a  luta  contra aquela  e a ocupação deste como possibilidade de  conscientização e  questionamento da realidade em  que o  leitor  se  insere.” ( SOARES,2004, p. 28)

18. “ O  resgaste  da cidadania, no caso dos  grupos  marginalizados, passa  necessariamente pela  transformação de  práticas  sociais  tão excludentes com as da escola brasileira, um dos lugares dessa  transformação poderia ser  a desconstrução da concepção do  letramento  dominante.” (KLEIMAN, 2012 p.47)

19. Assim, pode-se dizer que com a presença do computador e principalmente da  internet surgem  a cada dia novas  oportunidades de  leitura, entre as quais há um predomínio da  leitura extensiva: os  internautas leem em  grande  quantidade e velocidade, embora não de forma aprofundada. Há, no entanto, também oportunidades de leitura intensiva na Internet em sites que  oportunizam contato com a  literatura , artigos  científicos e culturais.  (FREITAS, 2011, p. 207)

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil. Gostosuras e Bobices, São Paulo: Scipione, 1991.

CHARTIER Anne Marie. “La lecture scolaire entre pédagogie et sociologie”,in: POULAIN, M. (dir) Lire en France aujourd’hui, Paris: Editions Du Cercle De La Librairie, 1993.

FREITAS, Maria Teresa de Assunção. A tela e o livro Um diálogo  possível? In: MARTINS, Aracy Alves; MACHADO, Maria Zélia Versiani; PAULINO, Graça; BELMIRO, Celia Abicalil (orgs.) Livros e  Telas. Belo horizonte: Editora UFMG. 2011.

GALVÃO Ana Maria de Oliveira, et  BATISTA Antônio Augusto Gomes, “A leitura na escola primaria brasileira” , Presença Pedagógica, v.4 n°24, Nov. Dez. 1998.

HELD, Jacqueline.  O Imaginário no Poder, São Paulo: Summus, 1980.

HORELLOU-LAFARGE, Chantal e SEGRÉ, Monique. Sociologia da Leitura. Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial, 2010.

KLEIMAN, Angela B. .Modelos de  letramento  e as práticas  de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, Angela B ( org.) Os  significados  do  letramento. Uma  nova  perspectiva sobre  a  prática social da escrita.   2ed.Campinas, SP: Mercado de Letras. 2012.

KRAMER, Sonia;  SOUZA, Solange Jobim e., Histórias de Professores. Leitura Escrita e Pesquisa em Educação, São Paulo: Ática, 1996.

KUPIEC, Anne.  “Emancipation et lecture” in POULAIN M. (dir), Lire en France Aujourd’hui. Paris: Editions du Cercle de la Librarie.1993.

LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo, São Paulo: Ática, 1993.

QUEIRÓS Bartolomeu Campos de. Palestra proferida no Encontro Estadual PROLER BH e Região  Metropolitana. B.H, outubro de 1998

SCHON, Erich., “La fabrication du lecteur” in CHAUDRON, M., DE SINGLY, F.,  Identité Lecture Ecriture, Paris: Centre Georges Pompidou. BPI, 1993.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO MG. Conteúdos Básicos. Ciclo Básico de Alfabetização à 4a série do Ensino Fundamental. Português. BH: SEE MG 1994.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO MG. Programa de Língua Portuguesa e Literatura, 1° e 2° graus. BH: SEE MG, 1987.

SILVA Ezequiel Teodoro da. “Biblioteca Escolar: Da Gênese à Gestão” in ZILBERMAN Regina., Leitura em crise na escola. As alternativas do professor, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

SINGLY François de. Les jeunes et la lecture. Les Dossiers Education et Formation n.24, Paris: DEP, Ministères de L’Education et de la Culture. 1993.

SOARES, Magda Becker. As  condições sociais da  leitura:  uma  reflexão em contraponto. In: Zilberman. Regina e  SILVA; Ezequiel  Theodoro da. (orgs) Leitura perspectivas  interdisciplinares. São Paulo:  Ática, 2004.

SUTTANA,  Renato. Um problema de formação: reflexões sobre literatura, leitura e ensino. Leitura  Teoria e  prática v, 29 n.57. 2011

THOMAZI, Áurea. Regina Guimarães. L’enseignant de l’école élémentaire et le curriculum de la lecture. Enquête à Belo Horizonte Brésil. 1995.470 f. Tese (Doutorado em Ciências da Educação)- Université Paris V. Paris.2005.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Curso de Leitura e Escrita Braille na Biblioteca Pública Luiz de Bessa em BH / MG


As inscrições para o Curso de Leitura e Escrita Braille da Biblioteca podem ser feitas até dia 30 de Maio


Alguns dias atrás fiz uma visita na Biblioteca Luiz de Bessa e descobri que esse curso irá acontecer. Fotografei o anúncio afixado dentro dela e estou compartilhando:




São 10 vagas destinadas principalmente para os deficientes visuais, seus parentes e familiares próximos.


As aulas acontecem aos sábados na parte da manhã, no Setor Braille da Biblioteca que tem sede ao lado da Praça da Liberdade.

O valor da inscrição é de R$ 100,00 com material incluso.

Maiores informações:

http://www.cultura.mg.gov.br/ajuda/story/2159-biblioteca-publica-oferece-curso-de-braille


#cultura #braille #acessibilidade #cegos #cegueira #leitura #escrita #biblioteca #mg #bh #educação #curso


Blogs Pedagógicos dos Estudantes do Curso de Pedagogia da UEMG / UAB

Uma lista de Blogs dos estudantes do curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)


Esta lista tem o intuito de reunir e catalogar os Blogs Pedagógicos dos estudantes do Curso de Pedagogia da UEMG. Através dela, esperamos que todos possam se orientar, conectando, aprendendo, compartilhando o processo de ensino aprendizagem pela web.


Espero que vocês gostem e compartilhem esta lista. Se você é um(a) estudante e seu Blog não está listado aqui, procure-me para que possamos incluí-lo nesta lista.


#uemg #pedagogia #uab #estudantes #blogosfera #pedagógico #educação #conhecimento #universidade #brasil #mg #minasgerais

quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Regra de etiqueta" no WhatsApp?

As novas tecnologias estão aí, e realmente no ritmo que as coisas tem caminhado, é difícil escapar da utilização das mesmas - Não ter Facebook, não ter WhatsApp ou mesmo não ter um celular parece cada vez uma realidade inviável dependendo das relações sociais que você estabelece e das comunicações que você precisa fazer.

A questão é que nem todos compreendem como utilizar essas tecnologias e formas éticas ou mesmo respeitosas de se comunicar. Não raramente temos problemas com isso - pessoas que enviam mensagens demais, com conteúdos indesejados, em horas inconvenientes, etc.

Descendo a linha do tempo no Facebook acabei por ver um link de um Blog que fora compartilhado por uma amiga:

13 coisas que você nunca deve fazer em grupos de WhatsApp

Dentre as coisas mencionadas encontrei:


8 – “Eu vi que você leu e não respondeu”. Esta é uma frase que não pode aparecer nunca em seu vocabulário. Você não está do outro lado do celular para saber o que está acontecendo com a pessoa. Cobrar respostas não é nada elegante.

Pensei em todas as sugestões e acho que a maioria delas podem servir de bons conselhos. Sempre me pego tendo dificuldade em receber a enxurrada de mensagens que recebo todos os dias nas redes sociais e nos aplicativos, assuntos variados que me pedem atenção e concentração, já que tenho várias questões profissionais, pessoais e acadêmicas para lidar.

Espero que vocês leiam a postagem do Blog e repensem o uso destas tecnologias comunicacionais de forma que elas possam se tornar e se fortalecerem como ferramentas úteis e que o ajudam em seus afazeres diários.